domingo, 11 de março de 2007

Literatura Porno cada vez mais chique!!

Jornal: O Estado de Sao Paulo
Em tempos de Cicarelli, pode parecer até trivial falar de sexo verbal - as imagens serão sempre muito mais eloqüentes. Mas a literatura vive um momento quente no setor.É a velha literatura de sacanagem, agora revestida de um verniz civilizatório: capas transadas, traduções caprichadas, versões em quadrinhos chiques, formatos ousados.O frisson começou no ano passado, com o lançamento de um mangá (história em quadrinhos japonesa), Sade, da artista underground japonesa Senno Knife. O material era inspirado nos contos eróticos do Marquês de Sade, dos Irmãos Grimm e de Pauline Réage. Com arte no estilo shoujo (mangás femininos), a obra adaptava histórias inéditas, entre elas Justine, baseada no conto de Sade Les Prospérités du vice (ou Les Infortunes de la vertu).Entre diversos títulos da Conrad (como Garotas de Tóquio, de Frédéric Boilet, Clic 1, de Milo Manara, e Omaha, a Stripper, de Reed Waller e Kate Worler), chama atenção uma HQ porno-chique: Giovanna Cassotto, que se vale do hiperrealismo (os desenhos são tirados de fotografias, e a autora usa seu próprio corpo como modelo) para dar um novo alento ao velho 'catecismo' - as situações são irônicas, mas o sexo comparece sem papas nas línguas.'O erotismo que tenho em mente é composto de atitudes femininias, atitudes precisas, inspiradas nas pin-ups dos anos 50', diz a autora, Giovanna Cassotto.Outra série ambiciosa é a Coleção Devassa, da Azougue Editorial. Segundo o editor, Sérgio Cohn, a coleção nasceu de uma conversa de bar (o Devassa do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro) entre ele, Ana Luiza Beraba (com quem divide a organização da coleção) e o tradutor Bernardo Esteves, que traduziu o livro Manual de Boas Maneiras para Meninas, de Pierre Louÿs.'Estávamos comentando quanto apreciamos literatura erótica, e como as coleções desse gênero no Brasil se restringiam aos livros clássicos, deixando de lado toda a excelente literatura erótica contemporânea. Decidimos, então, criar uma coleção com nossos títulos de predileção. A idéia desta coleção erótica veio, como não poderia deixar de ser, do prazer. No caso, o nosso prazer como leitores de livros eróticos.'O mais interessante é que Cohn conseguiu um patrocínio perfeito: uma cervejaria animou-se a bancar toda a série, mas com uma exigência bem definida. 'Não nos furtamos à tentação de brincar com a tênue linha entre a correção e a subversão, o moralismo fácil e a ousadia, fazendo uso muitas vezes de projetos culturais para questionar padrões pré-estabelecidos', discursa Cello Macedo, diretor executivo da cervejaria Devassa.Segundo os editores, sua intenção é trazer à tona não só textos inéditos, mas também outros fora de catálogo, raros, underground, alternativos, de vanguarda e malditos que estejam inseridos dentro de um universo erótico-pornô.Diversos livros de teor erótico invadiram as listas de mais vendidos nos últimos anos. É o caso de A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, Hell - Paris 75016, de Lolita Pille, Cem Escovadas antes de Ir para a Cama, de Melissa Panarello, e O Doce Veneno do Escorpião, de Bruna Surfistinha.'Agora, da lista acima, apenas o livro do João Ubaldo é estritamente de ficção', diz Sérgio Cohn. 'Os outros se propõem a ser relatos mais ou menos verídicos.' Segundo o editor, sua nova coleção, com Cassandra Rios, Pierre Louÿs e Almodóvar, aproveita-se de duas vertentes: a imaginação e o voyeurismo.

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